Ele se chama Eui-seok Choi, na versão ocidental, ou Choi Eui-seok (최의석), seguindo a lógica original, mas você provavelmente o conhece como Wizer. Top Laner da paiN Gaming, ele é o jogador estrangeiro com mais partidas no CBLOL, com 252 jogos, já podendo ser naturalizado como um jogador local de nossa liga. Mas você conhece o ser humano por trás do nick?
No Fora do Rift, série de matérias em preparação à Grande Final do CBLOL, contamos histórias das pessoas envolvidas na decisão — indo além do pro player. Você também poderá ler a história do ProDelta, Suporte da Vivo Keyd Stars.
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Seul, Coreia do Sul, 29 de novembro de 1998. O choro anuncia a chegada do recém-nascido Eui-seok, terceiro filho de Kwansup Choi e Jeongsun Oh, caçula das irmãs Jiwon Choi e Seungyeon Choi. Vinte e cinco anos depois, ele estaria do outro lado do mundo, imerso em uma cultura completamente diferente da sua. Um homem feito, que sabe a responsabilidade e o peso que carrega em seus ombros.
Mas como ele chegou aqui? Entre a Coreia do Sul e o Brasil há quase 18 mil quilômetros, 12 horas de fuso horário e uma barreira linguística e cultural gigantesca. O que, em seus vinte e cinco anos de vida, fez Eui-seok vir para tão longe? Essa é sua história. Bem, parte dela.
“Quando eu era criança, não tinha muitas preocupações na minha vida. Eu só ia para a escola, e não gostava muito de ir, não. Ia porque tinha que ir”, começa a contar, se lembrando de um tempo distante, a meio mundo e quase um quarto de século de distância. “Era um bom aluno, mas não gostava de estudar. Não me satisfazia. Minhas matérias favoritas eram história, ciência, matemática e inglês” - Wizer é, entre os coreanos que já passaram pelo CBLOL, o que melhor domina a língua inglesa. Reflexo dos tempos de escola, talvez?
“Como hobby, brincava com meus amigos no playground, às vezes jogava badminton, também ia aos PC bangs jogar no computador. E, ah, gostava de resolver cubo mágico. Esse era meu hobby.” Uma infância normal, portanto. Só que com algumas diferenças.
Talvez a maior delas seja que, quando criança, Wizer se mudou um total de sete vezes, um número um pouco incomum, consideravelmente alto. O motivo?
“Meu pai é um homem de negócios, e as coisas não estavam muito boas, financeiramente falando. Além disso, os contratos de apartamentos na Coreia do Sul costumam ser de dois anos”, explica. À época, não tinha celular, então era comum que perdesse contato com os amigos da escola. “Existem muitas escolas na Coreia, as minhas sempre eram a 10 minutos andando de casa” — então, a cada mudança, uma nova escola, um novo círculo social, um novo recomeço.
“Foi bem difícil. Porque toda vez que eu me tornava próximo dos meus amigos, precisava deixá-los, sabe? Tinha que perder meus amigos. Uma vez, eu fiz alguns amigos muito próximos. Nos encontramos no dia anterior ao da mudança e ficamos conversando até duas horas da manhã. Fiquei muito triste na época”, disse, parecendo se transportar ao passado momentaneamente.
Há um ponto que o aproxima bastante de nossa realidade: a questão profissional. Para se tornar jogador, teve que convencer a família, mesmo com a cultura de Esports sendo bem mais estabelecida na Coreia do Sul. As irmãs foram aliadas importantes nessa história, bem como a mãe.
“Meu pai não aceitou que eu fosse um jogador profissional até eu estar no segundo ano do ensino médio. Eu não tinha PC em casa e não tinha dinheiro pra jogar no PC bang, então era difícil… Eu queria parar de focar nos estudos e me dedicar ao jogo, mas meu pai não deixava”, relembra.
O que finalmente girou a chave foi ter alcançado o tier Desafiante nas filas ranqueadas coreanas. Foi aí que, tendo uma prova concreta de suas habilidades, conseguiu convencer o pai. “[Sem isso], ele só me expulsaria. ‘Você tem que estudar, tem que ir para uma boa universidade’, é o que ele diria.”
Ter lutado pelo seu sonho valeu a pena. Wizer viu sua realidade mudar, do jovem sem dinheiro para jogar no PC bang, para um que viajaria o mundo para competir. Em 2019, quando estava na SANDBOX, recebeu o convite da KaBuM!.
A decisão estava tomada: “Mãe, eu quero ir para o Brasil”, se lembra. “Foi a primeira vez que tomei uma decisão grande por conta própria”.
Ela, que sempre o apoiara, repetiu o gesto. É claro que estava preocupada. Mas ela sempre foi uma fortaleza em sua vida, impulsionando todas as suas decisões. Dessa vez, não foi diferente.
Quando chegou em nosso país, o choque foi imediato. Comida, cultura, língua. Era tudo diferente. Muito diferente. Além disso, era a primeira vez que Wizer saía da Coreia do Sul para jogar profissionalmente. Antes, só havia viajado a passeio. “Mas eu estava muito confiante. Estava estudando inglês e a história do Brasil. Além disso, assim que cheguei, meu manager disse: ‘Você vai ser o melhor jogador do Brasil. Eu espero muito de você.’ - fiquei surpreso. Eu consigo fazer isso? É o começo da minha carreira. Mas… funcionou. Eu peguei rank 1 na SoloQ.”
À época, o título não veio. Também não foi campeão em sua segunda passagem pelo time, em 2021, mas decidiu continuar no Brasil. Fez da paiN Gaming sua casa, e vem buscando a cobiçada taça do CBLOL desde então. O motivo para estar há tanto tempo em nosso país? Esse é fácil de adivinhar.
“O maior motivo são os fãs. E como os times e jogadores do Brasil me tratam”. Para um menino que se mudou tanto, perdendo os laços com seus amigos de infância quando eles começavam a se estreitar, não é de se espantar que Wizer valorize tanto assim o contato com as pessoas. Do outro lado do globo, encontrou outra família.
“A minha confiança vem dos meus fãs. Eles também fazem eu me lembrar da minha responsabilidade. Não quero decepcioná-los” - e apesar de ter batido na trave nas últimas Finais de CBLOL, Wizer não se deixa abalar. “Não penso no passado. Não tenho arrependimentos. Sempre foco na próxima Final, para não perder a confiança. Penso que dessa vez vai ser diferente, e foco no presente.”
E o que significaria para ele finalmente erguer o troféu do CBLOL com a paiN Gaming?
“Significaria muito. Eu sempre quis ter uma carreira vencedora. Vai ser algo importante para minha vida toda. Aí, quando eu me aposentar, poderei dizer: ‘quando eu fui jogador profissional, eu fui campeão’. Será uma boa lembrança. É muito importante para mim.”
E isso vai além. Wizer entende o peso da Tradição. Sabe que, para a paiN Gaming, e mais do que isso, nos esportes de forma geral, só o primeiro lugar importa. “Não diria que a gente falhou nos últimos anos, mas precisamos vencer. As pessoas se lembram apenas de quem foi o campeão.”
Mas e, como o título diz, Fora do Rift? Quais os sonhos de Eui-seok, mais do que somente do Wizer? Já faz algum tempo que ele está noivo de Eduarda Vieira, que conheceu aqui no Brasil. Reservado, disse que o relacionamento com ela vai bem.
“É claro que falamos sobre o casamento. Mas ainda não chegamos a uma conclusão sobre onde vamos morar. Ela está aberta a ir para a Coreia, e eu estou aberto a morar fora dela”, diz. Sobre sonhos, a mente também divaga.
“Meu sonho? Eu só quero ter uma vida tranquila, sem problemas. Esse é o meu sonho.”
Com 25 anos, Wizer está perto do limite de 28 para o alistamento obrigatório ao exército, algo que vai de encontro ao seu sonho de uma vida tranquila. Ele sabe, também, que quando o momento chegar, tudo será diferente para ele: “Ir para o exército significa parar a carreira como jogador profissional. Existem algumas exceções, como o Wiz, mas é muito difícil voltar à sua antiga performance.”
Durante a entrevista, esse foi o único momento em que Wizer pareceu verdadeiramente preocupado. É algo que está em seus pensamentos. Alguma vez terá perdido o sono com a pressão de precisar servir ao exército e deixar de ser jogador? Quando isso acontecerá? Quanto mais poderá dedicar ao seu sonho, buscando a glória dos títulos e honrar a si mesmo, à torcida e ao país que o acolheu?
São muitas questões.
Muitas incertezas.
Esse, inclusive, é um de seus únicos medos. “Não tenho medo de muita coisa. Talvez, só da vida em geral. A vida é imprevisível”, disse, e, em outro momento da conversa, falou também sobre o outro lado da moeda: “É só o ciclo natural das coisas”.
Eui-seok tem uma visão clara e objetiva sobre muitas coisas. Vive o presente, é centrado. Além disso, olha para o futuro com a mente aberta; em relação não só ao seu casamento, por exemplo, mas também à carreira. Quando sair do exército, não sabe exatamente o que fará. “Estive pensando que quero fazer outras coisas além de jogar. Nem mesmo ser um técnico. Mas é claro, não tenho um plano muito sólido. Então o que estive pensando é, quando deixar de ser jogador profissional, vou ler muitos livros e receber conselhos das pessoas. E começar devagar, sabe? Vou voltar a estudar ou entrar no mundo dos negócios.”
Para finalizar, perguntamos ao Wizer como ele se descreveria em uma palavra.
“Em uma palavra? É muito difícil…”, mas após pensar por alguns instantes, trouxe uma resposta verdadeiramente profunda: “Talvez eu possa responder que sou uma árvore. Ela está sempre de pé, e às vezes muda com as estações.”
“Eu sou resiliente. Eu permaneço de pé.”
E assim estará, mais uma vez, diante de 10 mil torcedores no Ginásio do Mineirinho, neste sábado, 07 de setembro. Contando com o apoio de toda uma torcida para finalmente conquistar o título que tanto deseja e fincar de vez as suas raízes na história do CBLOL.